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É com este que eu vou

Para saber qual o transporte mais viável no centro de Brasília, o Correio promoveu um teste com um ciclista, um motorista de carro e um usuário de ônibus

Marcos Vieira chegou primeiro que os outros: 15 minutos do Sudoeste à Esplanada
Fernando Arruda perdeu 45 minutos do seu dia dentro de um microônibus Zebrinha
Gustavo Teles gastou 20 minutos de casa ao trabalho. No caminho, congestionamento

Diante das opções de transporte (ou da falta delas), o Correio promoveu um teste para avaliar as dificuldades que o brasiliense tem para transitar nas ruas de Brasília. Bicicleta, carro particular ou o sistema de transporte público: o que seria mais apropriado para percorrer 9 km no centro da capital federal no horário de pico, entre 7h30 e 8h30? O servidor público e atleta amador Marcos Vieira, 42 anos, o engenheiro civil Gustavo Teles da Costa, 25 anos, e o estudante de geografia da Universidade de Brasília (UnB), Fernando Arruda, 22 anos, aceitaram o convite para participar do teste. O ponto de partida foi a SQSW 303, Sudoeste, às 8h da última quinta-feira. A prova terminou na portaria do Ministério dos Transportes, depois que a bicicleta foi guardada e o carro, estacionado. O combinado era encontrarem-se na portaria do prédio. Vamos à prova:

É dada a largada. Em um minuto, o ciclista Marcos sai da quadra e entra na via na Avenida Comercial do Sudoeste. O engenheiro Gustavo dá arrancada em sua picape. Percorre apenas 10 m e pára em uma faixa de pedestre para dar passagem a uma mulher e a uma criança. O universitário Fernando caminha em direção à parada de ônibus. Vai tranqüilo. “Sei que vou chegar em último. Conheço bem o transporte público”, comenta o jovem.

O estudante leva quatro minutos até o ponto de ônibus. A caminhonete de Gustavo está bem à frente. “Por enquanto, o trânsito está fluindo”, avalia o engenheiro. Mal sabe ele que uma fila de carros o aguarda a menos de 1km, por causa de um balão. Havia veículos em todos os sentidos e, mais uma vez, o motorista tem que esperar. O ciclista aproveita para se distanciar ainda mais. O pior trecho do percurso está na saída do Sudoeste. Dezenas de carros esperam o semáforo ficar verde para entrarem no Eixo Monumental. A fila tem mais de 500m. A bicicleta avança sem problemas.

“Estou com sorte”
Passam cinco minutos e Fernando ainda espera no ponto. Passa uma van e depois um ônibus. Porém, nenhum vai para a Esplanada dos Ministérios. Após seis minutos, o estudante entra em um zebrinha. “Até que não demorou muito. Acho que estou com sorte”, acredita o jovem. Apesar de o microônibus estar quase lotado, ele consegue um lugar para se sentar.

A bicicleta, que segue na média de 33km/h, está próxima à Torre de TV. O trânsito está pesado nesse trecho, e é preciso cuidado. Como não há ciclofaixa, ônibus, vans e carros passam a poucos metros do ciclista. Nesse instante, a caminhonete de Gustavo ainda está na Avenida Comercial do Sudoeste. O sinal que controla a entrada de veículos no Eixo Monumento já abriu e fechou duas vezes. Após cinco minutos na retenção, o engenheiro finalmente entra em uma das principais vias da capital federal.

Enquanto isso, o universitário muda de idéia sobre estar com sorte. O zebrinha começa a dar voltas e Fernando fica impaciente. Olha o relógio, coça o queixo e respira fundo. O veículo entra em uma quadra interna do Setor de Indústrias Gráficas (SIG) e uma morena entra no veículo. A expressão do estudante muda imediatamente. É uma amiga. Ambos sorriem e se cumprimentam com três beijinhos. Ele repara no porta-CD’s nas mãos dela e puxa assunto. Passam a conversar sobre música, e a viagem fica mais agradável.

Bem à frente, a caminhonete segue rapidamente até a Rodoviária. Porém, o trânsito intenso faz o motorista perder mais tempo e o deixa irritado. Uma van de transporte alternativo, com o cobrador com metade do corpo para fora da janela, força passagem entre os carros, obrigando-os a frear. “Aqui tem muito ônibus e os motoristas de vans são terríveis”, reclama o engenheiro.

O primeiro e o último
Quinze minutos após a largada, a bicicleta chega ao Ministério dos Transportes. Marcos sequer está suado. Ele procura um bicicletário e lamenta não encontrar. Também não é permitido deixar o veículo na portaria do prédio. O jeito é acorrentá-la a um poste no estacionamento. “É um perigo. Aqui, um ladrão leva ela fácil”, afirma o ciclista.

Pouco depois, o carro chega ao ponto de encontro. Mas o trabalho não acabou, porque não há vagas para estacionar. Gustavo indigna-se com um carro que ocupa duas vagas. “Já é difícil parar por aqui. E ainda tem motorista folgado que não estaciona direito”, lamenta. Vinte e dois minutos após a saída, o motorista, finalmente, estaciona.

O universitário ainda está distante, no Setor Bancário Sul. O zebrinha ainda passa pelo Setor de Autarquias Sul antes de pegar o Eixo Monumental. “Pelo menos o ônibus está limpo e não tem pichação. Os que fazem a linha das cidades satélites são muito mais detonados”, observa. Passageiros ouvem a conversa e citam outras falhas do transporte público: atraso, superlotação e veículo que quebra no meio do caminho. Após 45 minutos, o estudante chega. Desembarca em um ponto em frente ao ministério, dá poucos passos e encontra o ciclista e o motorista. “Esse ônibus demora muito. Dá muita volta”, comenta.

Ao final, os três convidados comentam a corrida. “Não vim rápido, mas tenho habilidade no trânsito. Um iniciante demoraria dez minutos a mais, por causa do medo”, disse o ciclista. “Eu esperava que a bicicleta chegasse primeiro, mas não tanto, porque não havia grande congestionamento”, disse o motorista da picape. “Sempre soube que seria o último”, conformou-se o passageiro do ônibus.

PELOS DIREITOS DE QUEM PEDALA
A delicada situação dos ciclistas nas vias do DF finalmente chamou a atenção da Justiça. O Ministério Público do Distrito Federal (MPDF) anunciou na sexta-feira que vai trabalhar para garantir a segurança e os direitos de quem pedala nas pistas e criou a Comissão de Segurança dos Ciclistas (Co-ciclistas), integrado por uma procuradora e sete promotores. Só no primeiro semestre de 2006, 29 pessoas perderam a vida depois de serem atropeladas enquanto pedalavam. O cumprimento da Lei Distrital 3.639/2005, que prevê a construção de ciclovias, será exigido pelo MPDF. Segundo o MPDF, o Detran arrecada R$ 70 milhões por ano em multas e o dinheiro tem de ser aplicado em fiscalização, sinalização e educação, como o Código Brasileiro de Trânsito (CBT) determina. A procuradora Ruth Kicis já pediu ao Detran informações sobre como foram gastos os recursos adquiridos com multas em 2005. gastos.
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As inviáveis quatro rodas
A frota do Distrito Federal cresce 5,5% ao ano. São 862 mil veículos — dois para cada cinco habitantes. E 77% são carros, que, geralmente, transitam com apenas uma pessoa. Bastam uma leve batida, uma obra viária de pequenas proporções ou uma manifestação e o trânsito fica infernal. “É preciso buscar alternativas. Nenhuma cidade do mundo suporta todos os seus moradores nas ruas em carros particulares. Ninguém sairia do lugar”, disse o professor de engenharia de tráfego da Universidade de Brasília (UnB), Paulo César Marques. Diante do problema, qual é a melhor maneira de se locomover na cidade?

Marques defende investimentos no sistema de transporte público e em meios de locomoção alternativos, como a bicicleta. “O carro é a prioridade em Brasília. Vias, campanhas educativas e equipamentos de fiscalização são voltados para esse tipo de transporte”, comentou. O sociólogo Victor Pavarino, do Centro de Formação de Recursos Humanos em Transporte da UnB (Ceftru), ressaltou que até andar a pé é difícil nas cidades do DF. “A velocidade das vias é alta e os serviços públicos e privados, centralizados. Faltam até calçadas. Se a pessoa não tiver carro, ela não vai”, afirmou.

Duas rodas
Estacionar na área central de Brasília tornou-se tarefa árdua. Segundo estudo do Departamento do Trânsito (Detran), existem 81 mil vagas no Plano Piloto. Mas o número de veículos que circula diariamente na região é quatro vezes maior. “O uso do transporte público e de bicicletas eliminaria a necessidade de se ampliar a quantidade de vagas”, explicou Pavarino.

De acordo com Paulo César Marques, a bicicleta percorre distâncias de até 15km em menos tempo que os veículos motorizados dentro das cidades. “É uma distância que qualquer pessoa pode percorrer sem sobrecarga de esforço. A bicicleta tem a flexibilidade de cortar caminho enquanto o carro fica parado em uma série de obstáculos”, declarou o especialista. Porém, ele reconhece ser perigoso andar sobre duas rodas. Nos seis primeiros meses deste ano, 29 ciclistas morreram atropelados. “Faltam ciclofaixas, ciclovias e educação por parte dos motoristas que não respeitam a bicicleta”, afirmou. E quase não há prédios públicos ou particulares que ofereçam garagens, bicicletários e vestiários.

O diretor-geral do Detran, Antônio Bomfim, concorda que a situação do trânsito é grave por causa do grande número de veículos. “Também sou a favor de usar a bicicleta como meio de transporte. Mas é muito perigoso. O risco é grande. É preciso construir todo um sistema de ciclovias. E a geometria viária do DF facilita isso.” Para Bomfim, estimular a utilização da bicicleta depende da articulação de um grande projeto entre diversos órgãos de governo, como as secretarias de Planejamento Urbano, de Obras e o Detran. “Sou a favor. É uma opção para o futuro. Acho que o próximo governo deve se articular e trabalhar nisso. Hoje, é perigoso. E não adianta fazer nada sem melhorar o sistema de transporte coletivo”, declarou.

Os usuários do transporte público correm menos riscos de morrer do que os ciclistas, mas sofrem com a péssima qualidade do serviço: veículos velhos e sujos, atrasos, falta de opção e inexistência de um serviço integrado. O secretário de Transportes, Mauro Cateb, reconhece os problemas. Porém, garante que um grande projeto, desenvolvido nos últimos quatro anos, mudará o transporte público do DF. Serão investidos US$ 246 milhões (equivalentes a R$ 524 milhões), dinheiro financiado pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID).

Cateb garante que a implantação do projeto começa em fevereiro do ano que vem. “O acordo está nos ajustes finais”, afirmou. A frota de ônibus será renovada e integrada ao metrô e às vans. As principais vias ganharão corredores exclusivos para os veículos coletivos e tudo será informatizado. O usuário poderá pagar uma passagem e usar mais de um sistema. “Esse projeto não tem mais como não acontecer”, afirmou o secretário. Ele estima, porém, que a implantação total do projeto, chamado Brasília Integrada, demore quatro anos. (LB)

Artigo publicado no jornal Correio Brasiliense de 17Set2006, domingo, no caderno Cidades

Autores: Leandro Bisa, Carolina Caraballo e Adriana Bernardes - Da equipe do Correio
Editor: Samanta Sallum // samanta.sallum@correioweb.com.br
Subeditores: Ana Paixão, Roberto Fonseca, Valéria Velasco
e-mail: cidades@correioweb.com.br
Tels. 3214-1180 • 3214-1181

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E-Mail
De: Marcos Vieira
Data: segunda-feira, 18 de setembro de 2006 17:46
Para: rebasdocerrado@yahoogrupos.com.br
Assunto: Quem chega primeiro

Olá, boa tarde !!!

Sobre a reportagem apresentada no CB, muita gente mesmo, leiga ou não no quesito "andar de bicicleta", perguntou-me sobre os critérios usados, se foi justo ou não, e na subida de volta, e se peguei carona, etc, etc. Justos questionamentos, e também algumas besteiras, de todo tipo.

O objetivo da reportagem, nesta semana em que se comemora o Dia Mundial na Cidade sem meu Carro (22 de setembro), era mostrar que existem outras formas alternativas de se deslocar pela cidade além do automóvel, inclusive formas que são mais rápidas, limpas, silenciosas, saudáveis, baratas, econômicas, etc.

Não era uma competição, mas acabou sendo entendido como tal. Eu fui para o pedal instruído para fazer o que faria normalmente num dia de ida ao trabalho de bicicleta. Entretanto, não foi me dada liberdade para escolha do trajeto. Argumentei que o caminho que estaria fazendo para o teste não corresponderia àquele que faria normalmente, onde buscaria rotas mais seguras e sem tanto movimento, como o Eixo Monumental neste complicado horário das 8 horas.

Inclusive, acho que pelo Eixo Monumental gastei mais tempo, pois fiquei envolvido em várias negociações no trânsito, com ônibus, vans, pedestres, veículos, etc, durante todo o trajeto.

Então vejamos:

. média de velocidade: como o trajeto era majoritariamente em descida/plano, deu para fazer uma média em torno de 34km/h.
Se fosse uma prova, neste trajeto, sem trânsito, com certeza seria possível imprimir uma velocidade, neste trajeto, com média de mais de 40km/h. Assim, para mim, que tenho experiência no trânsito, 34km/h foi uma média segura e tranqüila.

. e se fosse subindo: nos meus trajetos pela cidade, neste relevo bem "mamão com açúcar" de Brasília, faço contas de 30km/h.. Assim, os 9 km de volta levariam no máximo 20 minutos, o que não é nenhuma diferença assombrosa comparada com a ida.

. faixas de pedestres: parei numa faixa do Sudoeste, para esperar duas senhoras passarem, tendo sido o primeiro veículo a parar. Como as senhoras não me consideraram um veículo, esperando por outros veículos pararem, cheguei a falar para elas "vamos meus amores, podem atravessar".

. sinal de trânsito: chega a ser piada um ciclista "cobrar" parada de sinal de trânsito. Apesar da bicicleta ser um veículo e estar sujeita às mesmas determinações de qualquer outro veículo no CNT, não venham dar uma de santinhos. Ciclista deve usar bom senso, e não simplesmente seguir indiscriminadamente todas as regras. Assim, eu paro nos sinais de trânsito, se a travessia for colocar-me em risco ou a outras pessoas. Por exemplo, se o sinal é em um cruzamento, irei parar, e só prosseguirei quando o sinal abrir ou as condições de travessia permitirem. Se o sinal for para pedestres, espero os pedestres atravessarem, e só prossigo quando nenhum pedestre estiver atravessando. Neste percurso, parei em alguns sinais que estavam fechados e furá-los me colocaria em risco, e especificamente em um, já na Esplanada, em frente aos Ministérios, parei porque um pedestre o acionou para travessia. Já no sinal da pista do Sudoeste que dá no Eixo Monumental, não parei. Como o trânsito estava parado ali, fiz a curva e entrei normalmente no Eixo Monumental pelo bordo da pista. Ademais, um sinal em si não gera um aumento significativo de tempo no percurso, algo em torno de 30 segundos por sinal fechado. O que gasta tempo é a fila de carros que fica parada no sinal, facilmente vencida pela fluidez que a bicicleta proporciona.

. carona em veículo: piada, se o tivesse feito, atrasaria me muito mais no trajeto. Provavelmente os carros é que poderiam desejar pegar uma carona "em mim".

. contra-mão: não o fiz, até porque neste trajeto não era vantagem nenhuma, nem de segurança, nem de tempo. Para ser franco, na transversal ao Eixo Monumental que dá acesso ao Ministério dos Transportes, fiz uma pequena diagonal atravessando o Eixo Monumental em direção à calçada do Ministério. Talvez pudesse ser encarada como uma contra-mão.

. calçada: usei a do Ministério para ter acesso ao seu pátio de estacionamento. A princípio não poderia ser usada pelo ciclista, mas convenhamos, né ???

Concluindo, a bicicleta goza de algumas prerrogativas, no dia a dia, que não se justifica ficarmos culpando o ciclista ou fazendo uma caça às bruxas. O ciclista deve sigar as regras de trânsito, mas principalmente, usar seu bom senso para percorrer seu trajeto da forma mais segura e prazeirosa. Rapidez é só uma conseqüência do uso da bicicleta.

Desculpem-me os puristas e defensores xiitas do CNT, mas pego umas contra-mão, furo sinal, ando na calçada, atravesso áreas gramadas, uso o meio da pista, percorro pedalando a faixa de pedestre, desde que, estas atitudes condenáveis sob o ponto de vista legal, não me venham, nem a terceiros, colocar-nos em risco de acidente.

Abraços e inté

Marcos Vieira
(Chambinho)

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