Caros Rebas
A flecha foi arremessada....
Esticamos a corda do arco o mais que pudemos, e soltamos...
Agora é só acompanhar para ver se ela alcança o objetivo.
Como adolescente eu tinha a execução do Caminho de Santiago na mente, mas
realizando-o a pé.
Quando começamos no Rebas a nos aventurar em distâncias maiores de percurso,
o Caminho voltou à pauta.
Cheguei a comentar sobre Caminho com o Bob, mas naquela época o máximo de
realização que tínhamos como certa era o Superando Limites.
O sonho ficou vivo.
Como forma de acalmar esse sonho veio a Estrada Real, em Minas Gerais, e o
Caminho do Sol, em São Paulo.
O Walter cultivava também essa idéia.
Ela seria a continuidade dos famosos pedais pelas praias: o
NaFor(Nata/Fortaleza) e o Mana(Maceió/Natal).
O Caminho de Santiago era uma das conversas preferidas do Walter, quando ele
estava no hospital, e já tínhamos acordado de que ele seria o primeiro
grande pedal que seria feito, após o Walter dar alta.
O execução do Caminho seria uma forma de agradecimento por ele ter superado
tão grave etapa da vida.
Infelizmente, as coisas não puderam ocorrer como gostaríamos.
Com a perda do Walter, o Caminho voltou firme nos meus planejamentos de
pedal.
Em novembro de 2007 fizemos a nossa primeira reunião.
Eram 68 pessoas interessadas.
Minha preocupação passou a ser também com a quantidade de participantes.
Essa preocupação foi desaparecendo nas reuniões seguintes, quando o efetivo
passou a cair significativamente.
Eu passei a ler e anotar tudo o que passava por mim sobre o Caminho.
Informações não faltavam.
Foram mais de 20 livros, desde Paulo Coelho até livros pessoais de
escritores amadores.
Cataloguei dados de 3 guias importantes sobre o Caminho.
Tudo isso junto, mais a experiência vivida pelo Sérgio Pão de Queijo no
Caminho em 2007, com bicicleta, e o imenso conhecimento do Manoel Brasília,
com as suas 17 execuções seguidas, consolidadas em um manual, que é um dos
documentos mais ricos sobre o Caminho já feito por um brasileiro, resultou
no Projeto Caminho de Santiago de Compostela.
A idéia era fazer com que esse projeto consolidasse o primeiro pedal
internacional do Rebas do Cerrado.
Eu tinha consciência de grandiosidade do sonho.
Para ciclistas experientes, talvez essa aventura não tenha o valor que tem
para PDR juramentados, como eu.
Houve momentos em que eu cheguei a não acreditar que esse pedal fosse se
transformar em realidade, mesmo estando já com a passagem comprada.
Meus problemas pessoais com a minha saúde sempre foram fatores
desmotivadores.
Porém a energia e a magia do Caminho foram mais fortes.
Dizem os mais experientes que o Caminho começa quando o nosso coração começa
a pensar nele.
Pois o Caminho já estava presente comigo há muito tempo,mesmo que eu o
negasse.
A lembrança e saudade do amigo Walter era um fator constante na vivificação
do sonho, como se ele estivesse junto conosco nos planejamentos.
Um grupo heteregêneo nas potencialidades, mas muito rico em amizade,
cooperação e companheirismo, chegou em julho desse ano como a realidade de
participantes: Alexandre e Evana(o único casal do grupo, ele o experiente
condutor do PNDF e ela habilitada nos pedais de 2ª, 4ª e 6ª feiras do PNDF),
Andréa Malafaia(a mais experiente em pedais de longa distância pela praia e
no Audax), Sônia(com pouco mais de um ano de pedal, mas com uma garra
invejável), Barbara (a menos experiente do grupo, ainda às turras com a
sapatilha de taco, mas com uma excelente performance como nadadora do nado
borboleta), Maurício(com boa experiência de pedal, sobrevivente do Salma e
de um acidente com fraturas no PNDF), Luciano (o único atleta do grupo, em
condições de fazer uma média de velocidade superior a 20 Km/h-o dobro da
média do grupo), Luiz Paulo(com boa experiência do pedal, apesar de ser
Ovelha Negra e diretor geral da cozinha do PNDF), Paulo Tasse(com um pedal
leve e constante, no nível do Audax 200 Km, e grande persistência na ação) e
eu.
Injunções particulares, sociais e financeiras afastaram do grupo grandes
amigos, que estarão durante todo o pedal nos nossos corações, participando
das nossas dores e das nossas alegrias.
Hoje, faltando apenas quatro dias para a nossa partida, podemos verificar o
quanto "andamos" nesse projeto.
Foi mais de uma dezena de reuniões, troca de experiências, experimentos,
pedais de treinamento e principalmente estímulo mútuo, o que não deixou
esmorecer a vontade de entrar no Caminho e sair dessa aventura muito mais
rico como ser humano.
Se fossemos listar os agradecimentos antes da nossa partida, talvez não
tivéssemos tempo para entrar no avião, tão grande foi o grupo de amigos que
nos cercou e nos amparou nessa "loucura".
Mesmo procurando não citar nomes, não podemos deixar de apresentar aqui
nossos agradecimento
- ao grande amigo Manoel Brasília, nosso mentor, inspirador e mestre, e o
Grupo Peregrinos da Paz, que sempre nos estimulou me suas reuniões e
palestras;
- aos peregrinos compostelados que estavam sempre nos envolvendo com suas
histórias e experiências pessoais;
- aos amigos do Pedal Noturno DF e do Rebas do Cerrado, que nos acompanharam
nos treinamentos, sempre com uma palavra e um sorriso de estímulo;
- à Coordenação do Pedal Noturno DF, que não hesitou em modificar o seu
calendário, de modo a proporcionar ao grupo condições de treinamento em
percursos crescentes em nível de dificuldade;
- às nossas famílias, que tiveram que se adequar às nossas ausências e ao
nosso mau humor gerado pelo cansaço dos treinamentos;
- a todos aqueles que de alguma forma aprovavam a nossa aventura.
A festa de despedida organizada pelo Pedal Noturno DF, na última
segunda-feira, muito nos emocionou, mostrando o quão grande e significativa
é essa nossa aventura para todos os que nos querem bem.
Os aplausos e méritos antecipados é muito mais do que nós merecemos, e isso
nos emociona e gera em nossos sentimentos uma grande saudade, que vai nos
acompanhar desde o primeiro dia de pedal.
Vamos vencer nossos medos, nossas limitações e nossos defeitos em terras
desconhecidas e com cultura diferente e às vezes antagônica à nossa.
Vamos caminhar pelas calçadas construídas pelas romanos, visitar igrejas e
catedrais construídas pelo reis católicos espanhóis, assistir missas ao som
do canto gregoriano.
Vamos ouvir o canto do cuco, ver o pesado vôo das cegonhas, cruzar bosques
do velho mundo, "roubar" uvas das videiras à margem das andadeiras, tomar o
vinho de Rioja, comer paellas originais e esbaldarmos com bocadillos por
todo o caminho.
Vamos conviver com o cachorros do Paulo Coelho, em Foncebadón, como todas as
pessoas que se tornaram personagens do Caminho, com templários, com fadas,
com duendes, com magos e místicos para finalmente encontrar com São Tiago,
na sua Catedral.
"Não acreditamos em bruxas, mas que elas existem...elas existem".
Mas vamos com muita fé na nossa força de superação, amparados na nossa união
de sentimentos e no apoio da energia de todos os nossos amigos.
Muito obrigado!
Ultreya!!!
Marcelino
Grupo Santiago