Bem, eu havia me decidido a não escrever mais essas crônicas...muita gente
não gosta, eu entre eles há há há...mas eu não resisti e lá vai mais uma
leva de bobagens pra vocês, minha visão mais do que bastante pessoal do SL
III.
Eu sugiro que não leiam, apaguem e preseverm suas almas e seu precioso tempo
:o)
Para aqueles que mesmo avisados resolverem ler...favor não reclamar
depois...
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Os viciados, os descontrolados, os malucos, os sem noção, todos aqueles que
oscilam entre duas tentações, são provavelmente como eu.
Caramba. Onde tem uma bicicleta lá estou eu...Curupas...você precisa se
controlar, tem outras coisas por aí, um barzinho, um camping...dormir!!
Entre outras atividades muito boas, inenarráveis nesse horário e nesse
canal.
Certo! Não vou ao superando limites, minha camisa é meio velhinha, já
conheço o trecho, o horário de largada é uma coisa de psicopata e ta muito
caro...vou passear no parque.
Tenho dito.
Claro que eu precisava de apoio emocional pra fazer isso. Não é fácil não.
Contava (como sempre) com os meus amigos, os bródi. Eles não iriam também.
Ninguém vai. Pronto. Chega desse negócio de superar limites. Tenho mais o
que fazer.
Ahhh...Aí eu soube que a minha brother Tatiana dos Anjos iria pro SL III,
isso mancomunada com uma galera de pretensos amigos (uma lista grande de
traidores que eu não vou me dignar a reproduzir aqui).
Mas eu resistiria bravamente. Não iria sucumbir. Era preciso, excesso de
bike. Resistir...resistir...
Não pedalar. Trilha feia. Poeira chata. Matinho fedido. Não vou, não vou....
Dia 03/05. 14:00hs. Voltei do almoço, abri meu email e foi como um golpe
baixo em uma luta de boxe. Um cara completamente sem coração estava
liquidando uma inscrição pro SL III quase pela metade do preço. Diabólico
mesmo. Eu não teria sido tão baixo.
Fui praticamente obrigado a comprar aquela inscrição. Ainda liguei pro
Marcus (ele mesmo, o sem vergonha), esperançoso, torcendo pra ele já ter
vendido a inscrição. Que nada. Ele me disse "na verdade não"...
E assim...
22:30 do dia 06/05. O inferno mais uma vez. Um ano depois minha vida
repete-se...
Após ter arrumado, desarrumado e re-arrumado umas 658 vezes minha mochila e
a bike, finalmente me deitei pra dormir.
Enrolado nos lençóis, no escuro...dorme...dorme...dorme
Nada. Ouço o suspiro do meu cachorrinho Dart (um Golden Retriever mais que
carente). Ele está cutucando a porta do meu quarto com a pata.
O sono não vem. Os ruídos parecem avolumar-se. Pingos no banheiro. A vizinha
resmungando no andar de baixo. Alguém sacudindo as chaves no estacionamento.
Dorme desgraçado!!
Nada
Meia noite eu levantei. Arrumei mais umas dez vezes minha mochila e fui pro
carro em direção ao ponto de encontro no VIP Park.
Eita! Eu iria cair da bike, de tanto sono.
Engraçado, aqui vai um contra-ponto com o SL II (ano passado). Cheguei no
estacionamento das vans e achei todo mundo tão quieto. Tinha um pessoal mais
bagunceiro no SL II...devem ter sido presos, pensei. Percebi nessa hora que
alguns dos piores elementos do mountain bike não iriam pedalar o SL III, por
isso a tranqüilidade.
Fiquei com medo...há há há há...em quem eu colocaria a culpa de alguma
possível bagunça que, sem querer, eu fizesse?
Resolvi me comportar. Tava meio chateado porque agora que eu estava nessa
roubada de ficar a noite toda acordado e depois ainda ter que pedalar no
meio do mato mais algumas horas comendo banana e poeira, também, minha
namoradinha, queridinha, cheirosa, macia, sorridente, calorosa, elétrica,
engraçada, inteligente, etc.. (ahh média boa que eu fiz agora)....não veio
:o(, eu estava prestes a ser o mountain biker mais carente, sozinho e
desconsolado do SL III, ai ai...
É claro que eu fui com o meu breteli rosa-macho. Por que andar que nem um
urubuzinho em cima da bike, onde está escrito isso? :oPPP. Engraçado como
essa cor parece mexer com as mentes de alguns mountain bikers. Um psicólogo
iria ganhar uma grana forte no meio. O próximo breteli vai ser laranja, ha
ha ha...
Acho que é uma reação de tribo. Tem a tribo dos que usam camelbak e a dos q
não usam. A tribo dos que arrancam na frente e a dos que vão atrás, a tribo
da SRAM e a tribo Shimano. Dos Tioga e dos Maxxis, a tribo dos que dividem o
mundo em preto-branco e a tribo dos que acreditam que existam mais nuances,
etc.
E tem a minha tribo. A tribo que acha isso tudo engraçado.
E sem a menor importância.
O importante é pedalar.
E foi dada a largada.
Na semana anterior participei dos 70Km de Ceilândia gripado. Meu batimento
na hora da largada era 132. Quase morri por lá.
Ainda estava um pouco gripado, mas estava me sentindo bem melhor. Meu
batimento na largada do SL III foi 74, seis acima do meu batimento de
repouso usual. Iríamos ver, mas não iria me matar. Nem iria querer por pra
fora minhas vísceras como quase cheguei a fazer na Ceilândia.
Eu havia me proposto a acompanhar algumas amigas durante o pedal pra
Pirinópolis, na boa, conversando e aproveitando o pedal, por causa disso eu
esperei passar a quase totalidade da galera de forma a poder procurar as
camaradas, mas não vi nenhuma delas então eu subi na bike e tentei alcançar
o primeiro pelotão que já havia se distanciado de mim quase um quilômetro
quando eu larguei.
O primeiro pelotão de largada era composto por cerca de 20 bikers, eu os
perdi de vista na entrada do PC1 (saindo do asfalto). Sem problemas, eu iria
tentar manter a média geral entre 18 e 20Km/h que havia me proposto no
começo do pedal com três paradas de cinco minutos nos PAs. Isso me colocaria
em Corumbá as 10:52-11:16, 3:52-4:16 horas de pedal. Como eu disse, não iria
me matar pedalando.
Considerando a quantidade de apoio disponibilizada ao longo do percurso e o
clima, levei apenas uma garrafa de 750ml contendo hydroplus que eu
recompletaria a cada PA (quatro saches de hydroplus). Em cada PA eu também
beberia 300-400 ml de água pura e comeria uma tangerina e uma banana.
Levei 5 power-gel, 3 para a primeira parte do pedal. Essa estratégia se
mostrou funcional mesmo considerando o fato de que eu não vi o PA1 (mas
havia uma espécie de PA adicional alguns quilômetros para a frente).
Devido a estratégia de manter uma velocidade média (baixa) o melhor possível
eu acabei pedalando a maior parte do tempo sozinho prensado entre dois
pelotões que flutuavam seus bikers ao redor de mim.
Vou contar algumas coisas pra vocês de como é pedalar sozinho, na cozinha,
no meio ou no primeiro pelote. Talvez vocês se espantem com as minhas
conclusões.
Ali, atravessando aqueles corredores, espécie de túneis entre uma realidade
e outra, entre o que você é o que você deseja em cada momento e mediado pela
realidade que te é imposta e nem sempre acontecendo do jeito que você
imaginava, é onde acontece a verdadeira superação do seu limite, mental e
emocional, a batalha mais dura entre todas...você versus você...e não é tão
fácil ganhar de você mesmo...
(continua depois :oP)