Autor: Sônia Miranda
Data: 25Out2008
Fonte: E-mail
Título: Infelizmente, Medalha, só vi a dos outros
Comecei a pedalar há pouco mais de um ano, pedalo no PNDF e normalmente
faço as trilhas "fáceis" do Rebas. Mas com o apoio e a euforia dos amigos (
nos momentos de loucura) já acabei fazendo o Superando Limites 2008 e agora
o Iron Biker, embora eu seja pau de rato nos dois grupos.
Com estes grupos aprendi a respeitar a minha limitação e a de meus
companheiros, aprendi a trocar marchas , algumas técnicas em trilha ,
aprendi a me superar , aprendi a não desistir enquanto houver força, aprendi
a esperar por um amigo.
Quando a Débora ligou me chamando, disse que iria pensar mesmo já sabendo
que não deveria ir mas eu não sei que danado de bichinho é este que dizemos
"não" e logo depois lá estamos nós nos inscrevendo nas provas. Eu sabia que
seria apenas mais uma participante, não tinha a menor pretensão de concorrer
a nada, só queria pedalar e fazer parte da festa.
Ouvi tantas estórias do Iron Biker de anos anteriores. Relatos da emoção,
de como a festa é contagiante, de artistas que distraiam os participantes ao
longo do percurso, de banda de músicos, das bandeiras espalhadas pelo
caminho, do padre que retira a batina, tornando-se um ciclista, da
integração de ciclistas de todo o mundo , de como era o kit do ciclista e
das medalhas. Ah ... das medalhas mas adiante falo delas.
Me inscrevi inicialmente sozinha de acordo com a minha faixa etária e
depois mudei para uma dupla com o Alexandre meu amigo do PNDF, esta dupla
seria da categoria Dtur, pedalaríamos no nosso ritmo, sem o estresse dos
atletas, estaríamos na festa, pedalando e vendo aquele visual lindo de
Mariana e Ouro Preto , curtindo a natureza. Estávamos cientes que não
ganharíamos nenhum troféu mas se completássemos ganharíamos a medalha de
participação.
Aquela emoção toda na largada em Mariana, eu pensava o que eu estou
fazendo aqui ? , este pessoal todo preparado e eu uma simples "pau de rato"
, sou mesmo muito ruinzinha em trilha mas fui em frente.
Pedala, empurra, pedala , empurra , tira uma foto. Confesso que foi
muito difícil para mim, no primeiro dia, empurrei que nem uma condenada
(acho que uns 40% do percurso) mas foi maravilhoso estar ali, curtia cada
trechinho que eu conseguia pedalar. Sempre com os amigos da cozinha
Alexandre, Ignes e Cleo. Foram ótimos aqueles momentos.
Agradeço ao pessoal do apoio , eles foram maravilhosos, sempre
atenciosos, nos davam força através de palavras motivadoras e também dos
motoqueiros , sempre preocupados se tudo estava bem conosco. Fiz todo o
percurso do primeiro dia e não vi as tais bandeiras amarelas e verdes que o
regulamento dizia. Ninguém furou minha pulseira mas no entanto marcaram meu
tempo, apesar de ter estourado o tempo limite em 14 minutos. A Débora , com
a experiência dos outros anos, me tranquilizava dizendo: - Eles sempre dão a
medalha para quem completa mesmo que termine depois do tempo, mesmo que
troquemos de categoria.
No segundo dia pensei até em desistir, pois havia chovido muito na noite
de sábado e eu tinha medo de como estaria a trilha eu também estava cansada
do empurra bike mas tinha um compromisso com o meu par na dupla e comigo
mesmo e eu queria a medalha então fui em frente. Na largada me deparei com
aquele subidão, pensei vai ser novamente um "empurra bike", devo estar
maluca mesmo; pagar para empurrar bike em outra cidade. Mas logo no início,
encontramos o Felipe , filho do motoqueiro do apoio Fel , um menino
maravilhoso, comunicativo e muito valente de apenas 10 anos. Ele era o
mascote do Rebas.
Eu me motivava nele e assim fomos por todo o percurso. Eu
creio que éramos os últimos mas não fazia mal eu já estou acostumada a fazer
parte da "cozinha" do pedal mesmo. Quando passamos no ponto que separava o
grupo A e B do C, seguimos pelo C , seria o percurso do Felipe e não o nosso
, seguimos com ele, neste momento o fiscal ia questionar alguma coisa mais
um senhor da organização alto de cabelos grisalhos disse que não teria
problema algum e que ganharíamos a medalha mesmo trocando de categoria. A
Cleo e a Ignes se adiantaram um pouco e ficamos eu Alexandre e Felipe.
Passei muita dificuldade quando nos juntamos novamente com o pessoal do A ,
B e eu estava um pouco na frente do Alexandre e do Felipe e os ciclistas
vinham aos montes numa velocidade alta e eu empurrando ou segurando a bike,
me senti totalmente fora do contexto, eles eram atletas e eu uma tonta
empurrando bike. Mas muitos deles me davam palavras de incentivo.
Ficava
preocupada em não atrapalhá-los e quando empurrava a minha bike eu tinha a
preocupação de ir para o canto da trilha para que eles passassem livremente,
afinal eles estavam competindo e eu só participando da festa.
Creio que nos 10 km finais encontramos a Débora e a nossa equipe da
cozinha aumentou. Combinamos de permanecermos juntos até a nossa chegada na
praça. Eu comemorava com Felipe que daqui a pouco ganharíamos a medalha. Eu
estava que era só sorriso pois estava completando o meu primeiro Iron Biker.
Passamos na chegada, os fiscais falaram algo como o tempo não estava valendo
mais. Desci sorrindo até atingir a praça Tiradentes , meu coração estava
vibrando.
Quando chegamos, nós quatro (eu , Débora, Felipe e Alexandre) na praça
Tiradentes já entramos apitando e comemorando a nossa chegada. Os presentes
nos aplaudiam, acho que mais ainda pelo Felipe, uma gracinha pedando tudo
aquilo. E aí então umas moças da organização nos pararam e verificaram
nossas pulseiras e mandaram a Débora ir para um lado e nós três para o
outro.
Nossa, gente !!! , foi uma sensação horrível de segregação. Eu perguntei
porque nós iríamos para um lado e ela para outro e ela nos disse que é
porque não ganharíamos a medalha . Eu estou até agora me perguntando a onde
eu errei.
Completei os dois dias de percurso, não transgredi nenhuma regra.
A não ser que pedalar devagar e acompanhar uma criança de 10 anos sejam algo
a ser penalizado.
Eu não estou pedindo troféu , eu estou pedindo medalha de
participação. Meu tempo nos dois dias consta no resultado, algo que eu nem
esperava. Já que o tempo não estaria mais sendo válido, porque se deram o
trabalho de computá-lo ?
No entanto, para as moças este meu argumento não
valia , elas queriam furos na nossas pulseiras mas ninguém furou minhas
pulseiras com exceção das largadas e esta chegada do segundo dia. Porque
não furaram as nossas pulseiras durante o percurso ? Se não furaram porque o
tempo já havia expirado, porque então ainda marcar meu tempo ? Porque
furaram na chegada do segundo dia se eu também havia estourado o tempo ? Eu
via muitas contradições. Eu via, pessoas que estouraram o tempo no segundo
dia mas na pulseira havia mais furos recebendo a medalha , não entendia o
critério. no primeiro dia tinha de chegar no tempo , no segundo não ?
Em resumo, eu passei da euforia para a tristeza, ainda mais por ver o
Felipe chorando, eu esperava que a organização levasse o Felipe para o palco
pois uma criança de 10 anos, tão envolvida com o esporte num mundo tão
louco e violento como o nosso , é motivo de comemoração, mas não !!! ,
ficamos lá meio tontos e perdidos.
Fomos orientados a ir até a Secretaria,
lá chegando, um grupo grande questionava a mesma coisa. A festa para mim,
acabou ali.
Fiquei bem desanimada, o Fel tentou interceder pois ele tinha vídeo de
todo o nosso percurso mas o clima estava meio tenso muitas pessoas
reclamando por medalha e eu resolvi sair dali porque daqui a pouco quem iria
chorar era eu.
Depois soube de problema com outros Rebas e medalhas , sei que em momento
de estresse , as vezes, as pessoas reagem por impulso mas aquilo era um
momento de festa e eu tenho de deixar minha manifestação contra a não
entrega das medalhas para aqueles que completaram o percurso com atraso.
Cheguei a ouvir de uma das meninas da organização que se era para dar
medalha para todos , ela deveria ser dada na inscrição.
Fiquei muito sentida
pois viajei de Brasília a Ouro Preto, gastei tempo e dinheiro, corri risco
de me machucar, dei toda a minha força nos subidões, fiz o que pude e o que
não pude e no final nem uma medalha de participação ?
Entendo que um organizador fica muito pressionado num evento como este,
sei também das dores pela perda de amigos queridos mas gostaria também que
este organizador se colocasse no meu lugar e sentisse um pouco a minha
frustração.
Parabéns a todos os ciclistas, Parabéns ao Rebas , Parabéns a Débora ,
pelo empenho em levar tantos Rebas, Parabéns a todos nós. Obrigada ao Carlos
pela organização da excursão.
Obrigada pela companhia de todos, tirando isto tudo foi ótimo.
O meu reconhecimento eu já me dei, pois eu completei.
Abraços
Sônia Miranda